O Lincoln Bueno. Os Filhos. A Esposa. O Sequestro. O Avião. A Internação no RJ. A Mafripar. A Mercúrio. O Patrimônio Bilionário



 Um escândalo bilionário envolvendo os donos da Mafripar e Mercúrio, empresas líderes na região norte no seguimento de abate, importação e exportação de gado, foi parar nos tribunais paraenses e chegou na redação de O Antagônico. No eixo central dessa história, digna dos folhetins de Janete Clair, está o sequestro da empresária Maria de Fátima Osório da Silveira Bueno, fato ocorrido em plena luz do dia, no 17º andar do edifício Leonardo da Vinci, na Conselheiro Furtado, no centro da capital paraense. 

E ai vem o mais grave: os sequestradores, segundo a denúncia do Ministério Público, são o marido e os filhos de Maria de Fátima. Estamos falando do empresário Lincoln Lafaiete da Silveira Bueno, e dos filhos do casal, Carlos da Silveira Bueno Neto, Laura Bueno Correa, e Patrícia Bueno Bernardes, todos sócios proprietários das empresas Mafripar e Mercúrio. Os quatro estão impedidos, por força de medida protetiva decretada pelo TJ do Pará, de se aproximar da empresária. 

O processo, que tramita no TJ paraense, é público e não está em segredo de justiça. A real motivação do sequestro da empresária, segundo parecer do MP, seria uma manobra processual para afastar Maria de Fátima do gerenciamento de seus próprios bens e vida financeira, valores que giram em torno de R$ 8 bilhões de reais.

Consta na denúncia do promotor de justiça Franklin Lobato que no dia 02 de fevereiro de 2024, Maria de Fátima Bueno, foi sequestrada em sua residência e levada para uma clínica psiquiátrica particular no Rio de Janeiro/RJ, onde permaneceu internada até 13 de fevereiro de 2024. A empresária diz que a ação foi orquestrada por seu marido, o empresário Lincoln Bueno, juntamente com os três filhos do casal.

A empresária contou em depoimento à polícia que por volta das 8 horas da manhã do dia 02 de fevereiro, estava em sua residência, acompanhada de sua cozinheira, Joelielma Fonseca da Cruz, quando o motorista, de prenome Antônio, tocou a campainha. Na sequência, três enfermeiros invadiram seu quarto, ameaçando dopá-la e alegando possuir recomendação de internação psiquiátrica emitida por um médico chamado “Marcelo Neves”, com quem a vítima não havia se consultado. A empresária conta que resistiu à internação, mas foi persuadida por sua filha Patrícia, que afirmou que a ação era para seu bem.

A vítima foi conduzida pelos enfermeiros até um veículo reconhecido por ela como pertencente a seu marido. Após ser dopada, acordou no aeroporto de Belém, onde identificou o piloto particular da aeronave que a transportaria, além de outros pilotos fardados. A vítima tentou alertá-los sobre o sequestro, mas não obteve ajuda. Foi então levada para o Rio de Janeiro em uma aeronave de UTI móvel. 

Durante o período de internação na clínica psiquiátrica “Espaço Clif”, a vítima passou por diversos exames e testes, recebendo alta em 13 de fevereiro de 2024. Ao retornar à sua residência, a empresária encontrou o imóvel revirado e notou o desaparecimento de bens, incluindo R$ 25 mil reais e joias valiosas. A cozinheira da vítima, Joelielma Cruz, contou à polícia que uma das filhas da empresária, pegou o VDR das câmeras de segurança e cortou as fiações para apagar os vestígios. 

Apesar de a autoridade policial ter solicitado as imagens de segurança do prédio, elas não foram fornecidas. No processo, estão listados como testemunhas Bernardo Morelli Bernardes, Paulo Roberto da Silva Viana, Edina Monteiro Corrêa, Regina Lúcia Batista de Barros, Cleice Miranda Barbosa, Eduardo Bentes Vieira,  Igor William Barroso de Moraes, Edinaldo Ferreira Galisa, Max José Baia Figueiredo, Keydson Gonçalves de Lima e Antônio Carmona.

A motivação do sequestro, segundo a vítima, está relacionada ao divórcio litigioso com seu marido, que, juntamente com os filhos, não deseja dividir o patrimônio. Por temer pela sua segurança, a vítima solicitou medidas protetivas, que foram deferidas pelo juiz Otávio dos Santos Albuquerque, da 3ª Vara de Violência Doméstica. 

Consta na denuncia do parquet que os investigados negaram qualquer violência ou intimidação, alegando que a internação foi recomendada pelo médico psiquiatra Marcelo Neves. Contudo, a vítima afirma que nunca se consultou com tal profissional, levantando dúvidas sobre a veracidade das alegações. 

O Relatório de Junta Médica, diz a denúncia do promotor Franklin Lobato, menciona que a “Dra. Bruna administrou 1 ampola de Haldol e 1 ampola de Fenergan na paciente antes da saída de Belém”. Além disso, o laudo aponta que a internação foi involuntária, contradizendo a afirmação de que a vítima aceitou a internação após conversar com a filha Patrícia. 

Depoimentos de testemunhas que trabalham no prédio ou estavam no local confirmam que as filhas da vítima, Laura e Patrícia, acompanhadas por enfermeiros, levaram a mãe contra sua vontade. O contrato de transporte aéreo em UTI móvel, lista a filha da empresária, Laura Bueno Corrêa, como contratante. O retorno da vítima à Belém foi realizado em um voo comum pela empresa GOL. Há também um laudo médico, prossegue o relato do parquet, que atesta a normalidade dos resultados obtidos nos exames realizados durante a internação.

Interdição e Cobiça- O parecer do Ministério Público, na Ação de Interdição que tramita na 1ª Vara Cível e Empresarial de Belém, conclui que a vítima é “plenamente capaz”, com total lucidez. Diante da situação, o MP resolveu pedir à justiça novas diligências para dirimir várias dúvidas, dentre as quais reiteração do pedido das câmeras de segurança do dia 02 de fevereiro; disponibilização das imagens das câmeras do hangar de onde saiu o avião particular que transportou Maria de Fátima Bueno; requisição à Infraero do trajeto do avião particular que levou a vítima de Belém para o Rio de Janeiro, incluindo suas paradas; identificação e depoimento dos pilotos que conduziram a vítima, identificação e depoimento dos enfermeiros e médicos que participaram da remoção da vítima de sua residência, identificação da propriedade do veículo utilizado para retirar a vítima de sua residência junto ao Detran-PA; requisição às companhias telefônicas para identificação da localização dos celulares da vítima e do médico Marcelo Neves no dia 31 de janeiro de 2024; oitiva do vice-síndico do prédio Leonardo Da Vinci, de prenome Daniel, para apurar seu acesso às câmeras do local e as razões para a não disponibilização das imagens à autoridade policial; oitiva de Antônio dos Santos Carmona Junior, Max José Baia Figueiredo, Bernardo Morelli Bernardes, MARCELO NEVES e do vice-síndico Daniel e oitiva das pessoas que acompanharam as investigadas Laura e Patrícia Bueno na retirada forçada da vítima de sua residência.

Comentários