A Prefeitura de Belém. A SEGEP. O Advogado. As Mulheres. O Assédio Sexual. O Puty. O Edmilson e a Omissão
“Quem protege os lobos, sacrifica as ovelhas”. Essa é a frase constante no relato da advogada Márcia Cristina dos Santos Oliveira, ex-chefe do Núcleo Setorial de Assuntos Jurídicos da SEGEP, para resumir a omissão do secretário licenciado e candidato a vereador Claudio Puty, sobre graves denúncias de assédio sexual e moral dentro da prefeitura de Belém. Em um longo relato (texto e vídeos abaixo), Márcia disse que foi assediada sexualmente, juntamente com outras duas servidoras, por um advogado lotado na secretaria.
A denúncia de assédio sexual dentro da prefeitura de Belém, contra várias servidoras, coloca em xeque a gestão do Psol na capital paraense, cujo discurso sempre foi pautado na diversidade e na defesa dos direitos da mulheres. Segundo o relato da ex-servidora, o advogado também assediava a sua chefe e uma estagiária.
“Ele falava bastante sobre “comer novinha”, mulher depois dos 30 não serve mais pq tá muito velha, então isso meio que me fazia pensar que comigo ele nunca avançaria. Ilusão. Ele sempre nos olhava de forma lasciva, a gente tinha que ficar em alerta o tempo todo com as nossas roupas, pois ele ficava “manjando” nossos corpos. Se usávamos calça, ele tecia comentários sobre nossas formas e tamanho, na época, eu sempre usava vestido. O tempo foi passando ele começou a fazer comentários do tipo, “como é que tu gosta de sexo?”, eu não respondia nada, então ele começava a falar de posições que ele gostava, de coisas que ele gostava na cama, tipos de corpos que ele achava bonito, ele passava horas falando de sexo e formas de fazer sexo, das “amantes” dele, de como ele encontrou alguém no intervalo do almoço, de como ela gemia, era o dia todo, nós agradecíamos quando ele não ia.”
Diz um trecho do relato, frisando que os assédios começaram em 2021.
A situação toma contornos mais graves porque, além da omissão de Claudio Puty, a postura do prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues, foi ainda pior, uma vez que além de não determinar a apuração das graves denúncias, preferiu exonerar do cargo a vítima dos assédios. Uma postura reprovável, uma vez que se tratam de denúncias de natureza gravíssima e que merecem ser apuradas com toda seriedade e rigor, sob pena de institucionalizar o assédio, sexual e moral, como coisa “natural” dentro do serviço público. O Ministério Público também deve assumir seu papel e instaurar urgentemente procedimento para apurar as graves denúncias. Assista abaixo os vídeos com as denúncias de assédio:
Bem, o assédio comigo começou em 2021, esse advogado que era do nosso departamento, já assediava minha chefe e nossa estagiária, com as propostas para serem namorada/amante dele, na época eu era obesa, então o assédio era bem menor. Ele vivia fazendo comentários sobre meu corpo, meu peso e algumas vezes passava a mão no ombro e costas de uma forma estranha, eu me sentia desconfortável. A estagiária que era assediada por ele de forma bem mais agressiva que eu, sempre falava que não aguentava mais o assédio dele e que se sentia limitada pois já tinha passado por outro assédio na segep e não queria ficar nesse papel de ser vítima de mais um assédio, e embora eu sentisse esse desconforto, com os toques e conversas inadequadas, por eu não ser “padrão” e nem novinha eu me sentia meio que a salvo. Ele falava bastante sobre “comer novinha”, mulher depois dos 30 não serve mais pq tá muito velha, então isso meio que me fazia pensar que comigo ele nunca avançaria. Ilusão. Ele sempre nos olhava de forma lasciva, a gente tinha que ficar em alerta o tempo todo com as nossas roupas, pois ele ficava “manjando” nossos corpos. Se usávamos calça, ele tecia comentários sobre nossas formas e tamanho, na época, eu sempre usava vestido. O tempo foi passando ele começou a fazer comentários do tipo, “como é que tu gosta de sexo?”, eu não respondia nada, então ele começava a falar de posições que ele gostava, de coisas que ele gostava na cama, tipos de corpos que ele achava bonito, ele passava horas falando de sexo e formas de fazer sexo, das “amantes” dele, de como ele encontrou alguém no intervalo do almoço, de como ela gemia, era o dia todo, nós agradecíamos quando ele não ia. Ele também nos fazia tocar no braço e barriga dele, sentir o músculo, ele faz isso na frente de todos, sem nenhum pudor como se fosse algo normal, ele pede pra você tocar, se você não toca, ele puxa tua mão e faz tu tocar.
Algumas vezes me perguntou se eu passaria uma tarde com ele num hotel, eu respondia que não. Vez ou outra ele tentava me convencer a falar com a estagiária para que ela “aceitasse a ajuda financeira dele” em troca de ser a namorada dele, e eu sempre respondia: ela é estagiária, não é puta. Então ele sempre desconversava e dizia que eu era muito radical, muito feminista, tudo era assédio. Como já conhecíamos o modus operandi dele de perseguir pessoas que ele não gostava ou que de alguma forma confrontavam ele, sempre adotamos a postura de não enfrentar, ele vivia convidando a gente para almoçar com ele, e mesmo sem querermos, fomos algumas vezes acompanhadas também de um diretor da segep, o R, tudo corria bem e nada de grave ocorria, porém uma vez, o R não foi, nesse dia ele disse “vamos buscar um amigo meu “o gordo”. Aquele almoço foi uma das piores experiências para nós duas, ele agia como se a estagiária fosse amante dele e me empurrava para o tal do “gordo”, aquele homem me passava a mão de forma nojenta, dava em cima de mim, tentou me beijar, começou a chover, então o “gordo” começou a assediar também a estagiária, eles disputavam ela como se ela fosse um pedaço de carne e eles cães, foi degradante, estávamos presas naquela situação, pedíamos pra ir embora e ele continuava bebendo e ignorando nosso pedido, nenhum Uber aceitava corrida, foi horrível.
Depois desse dia, sempre que ele convidava para almoço, a gente enrolava. Ela adotou uma postura mais ríspida com ele, sempre que ele falava alguma coisa lasciva, ela escarnecia dele e ele se irritava. Começamos a tentar fazer com que ele parasse, mas então veio a fase do assédio moral. Ele começou a falar mal de nós para todos, começou a implicar com absolutamente tudo que fazíamos, implicou com um colega nosso por achar que entre ele e a estagiária acontecia alguma coisa, afinal se ela não queria ele, devia tá “dando” para outro e ele falava isso abertamente. Na época eu era obrigada a fazer todo o trabalho dele, absolutamente todos os pareceres assinados por ele no ano de 2021/2022, foram feitos por mim ou pela estagiária, ele simplesmente não trabalhava e cobrava coisas da gente que não era nosso trabalho, certa vez ele até brigou comigo por não guardar o token dele pois ele foi almoçar e não voltou e eu não guardei, então ele disse que se sumisse eu ia pagar o token pois ele tinha deixado sob minha responsabilidade.
Outra vez ele me mandou trabalhar em um caso particular dele, eu tive que fazer toda a petição, e ele ainda tentou me fazer participar da audiência, no fim ele me deu R$ 100,00 como se me fizesse um favor. A gente convivia diariamente com assédio moral. Então reportamos ao secretário a situação geral e ele foi movido do NSAJ para a assessoria técnica, mas com a reforma do prédio da segep, acabou que continuávamos a dividir a mesma sala. No final de 2022, em um dos episódios de assédio, ele arrancou a estagiária da cadeira dela pelo braço com força, discutimos, denunciei ele ao diretor geral, afinal a implicância dele tinha resultado em uma violência física. Após esse episódio ele foi trocado de departamento e passou a me perseguir de forma mais ativa. Ele totalmente ciente da minha total repulsa a ele, desde então, tem tem tentado me provocar para ter uma briga. Em 2023 fui promovida para um DAS mais alto, então ele passou a me perseguir mais ainda, os toques indesejados voltaram, ele chegava no gabinete como se fosse um rei, mandava e desmandava, pedia para tocarmos no muque dele, na barriga, ficava falando de sexo o tempo todo, tudo voltou. Na época eu já havia feito a bariátrica e ele sempre vinha com “elogios” falando que eu estava ficando um “Pitel”, que eu estava “quase no ponto”, ele se aproximava e passava a mão em mim, no meu ombro, nas minhas costas, de uma forma que me deixava muito desconfortável, eu sentia ânsia. Algumas vezes eu retirava a mão dele e ele questionava o porquê e eu dizia que não gostava. Nessa época eu já estava no meu limite, meu nível de repulsa a ele era muito grande. Então acabamos em confronto algumas vezes. Mesmo que eu não falasse nada, estava estampado no meu rosto a minha aversão a ele. Então fui chamada atenção pelo meu chefe sobre ter que manter uma postura e não cair na provocação dele (era fato do conhecimento de todos que eles buscava uma briga comigo), então naquela oportunidade relatei tudo sobre os assédios e meu desconforto, sobre meu nojo e repulsa a ele. Fui orientada a manter a calma e discrição, evitar cair na provocação (sim, ele podia me assediar e provocar o quanto quisesse, a responsabilidade por evitar a briga era minha).
Após esse dia, os assédios sessaram por um longo período. Ele passava por mim e nem me olhava, isso era bom, eu estava em paz. A implicância voltou após eu cobrar que ele colaborasse no café (ele ia até o NSAJ todo dia beber café, mas nunca comprava ou dava colaboração para o café). Após isso ele sempre dificultava tudo, criava obstáculos, a opinião dele sempre divergia, era desgastante. Era como uma criança fazendo birra. Nós sempre adotamos a postura “vamos concordar para não ter que lidar com ele”. Vale ressaltar que mesmo que seja do conhecimento de todos a postura assediadora dele, ele sempre esteve protegido por ser irmão de alguém importante para o governo. Então em junho de 2024, após todos esses anos de assédio moral e sexual, finalmente cai na provocação dele, eu estava mentalmente esgotada pois, mais uma vez ele nos fez explicar 5, 6 vezes a mesma coisa (sem nenhuma necessidade), me fez ligar para a outra assessora que estava de férias, ela também explicou. E após ele não ter mais o que inventar ele começou a questionar nossa capacidade técnica, levantou a voz, começou a falar de forma bem grosseira e arrogante, então falei mais alto que ele, disse que não aguentava mais ser desrespeitada, desabafei sobre como eu me sentia em relação a ele, e que eu não admitiria que homem nenhum gritasse comigo, que se ele gritasse comigo eu ia gritar mais alto que ele, que aquela era uma atitude machista e misógina, “escrota” que ele tava acostumado a crescer para cima de mulher, mas que eu não iria mais aceitar que isso acontecesse comigo. Por fim, mais uma vez para não ter mais que lidar com ele, disse que ele podia devolver o processo que eu anexaria a “porra” do parecer conforme ele queria.
Após esse ocorrido, ele solicitou abertura de um PAD, tentaram me coagir a pedir desculpas para ele. Pessoas ao meu redor sofreram pressão para comporem a comissão do PAD, todas se recusaram. Na denúncia do PAD sou acusada de de chamar meu assediador de “macho escroto do caralho”. Indignada com a situação e já conhecendo a politica de silenciamento que era adotada na segep sempre que um assédio é denunciado, inclusive naquela semana, havíamos recebido ordem para deixar de apurar as denúncias de uma ex-servidora que relatava assédio, enviei mensagem ao Cláudio Puty relatando todo o ocorrido, pensei que já que as denúncias sempre morriam lá pelo gabinete e nunca eram documentadas, havendo provas por mensagem, alguma atitute seria tomada.
Não houve resposta da parte dele, ele leu, digitou, digitou e não escreveu nada. Nos dias seguintes, minha companheira, que também era assessora de comunicação na segep e servia como assessora de comunicação pessoal dele, foi colocada de “escanteio”, as agendas que ela estava designada para cobrir, foram canceladas, ninguém mais falou no grupo que ela tava, as constantes chamadas para cobrir agendas políticas dele, cessaram, ela foi completamente isolada, começamos a ficar ansiosas, então ela foi removida do grupo de edição e logo no dia seguinte, também recebeu um aviso da Secretaria em que era lotada de que “pediram o DAS dela”, as coisas começaram a ficar bem estranhas. Ela simplesmente foi descartada sem ninguém sequer falar com ela. Ao comunicar o atual Secretário de que ela havia recebido o “aviso prévio” ele orientou que ela continuasse trabalhando que ele resolveria a situação. A partir daquele momento, ela finalmente ela só precisava fazer o trabalho dela de fato, que era de assessoria de comunicação na segep. Nos mantemos em alerta e distantes da vista dele.
Era dia do lançamento da pré-candidatura do Prefeito, ficamos apartadas do grupo do Puty, então em determinada situação demos de frente. Ele simplesmente não me olhava nos olhos e eu olhava para ele como quem cobrava uma resposta, foi um momento tenso. Dois dias antes da minha saída de férias, ele me enviou uma mensagem pedindo para que eu ligasse para ele de telefone, não podia ser por WhatsApp, pensei vou ser exonerada, afinal não me juntei a eles lá no lançamento da campanha e ainda fiquei olhando feio para ele. Cheguei em casa e liguei, ele atendeu e o motivo da ligação era pra pedir que eu tratasse do registro de candidatura dele, pois ele temia que alguém armasse alguma coisa para ele, a ligação me surpreendeu de muitas formas pois além do pedido ser inusitado, era sobre eu trabalhar de graça nas minhas férias (férias que eu nunca consegui tirar plenamente, pois sempre foram interrompidas) ele falava como alguém que era perseguido, que não confiava nem no braço direito dele, me deu ordens para selecionar assessores na segep para que me ajudasse na tarefa, disse que precisava de alguém que fizesse tudo por ele, pois ele não tinha como fazer, que ele não precisava de alguém que ele ficasse pedindo pra fazer algo, e tinha que ser imediatamente, eu devia começar naquele dia. Não houve uma palavra sequer de solidariedade ou de apoio, ele apenas me tratou como uma coisa sem valor que devia estar a disposição dele. Era inacreditável que ele não tivesse uma equipe jurídica tratando disso, provavelmente ele tinha, eu senti que era só ele me mantendo sobre controle e mostrando quem mandava e quem obedecia.
Aquela ligação me quebrou, não me surpreendeu, mas me quebrou. Talvez você se pergunte porque você falou com Puty? porque você não menciona seus outros superiores? Bem, eu tratei com os outros, mas os outros não tem poder de decisão como o Puty, o Puty é a pessoa da segep, politicamente a segep é dele. Quem dá as ordens é ele, quem efetivamente pode fazer ou não alguma coisa é ele. Não importa quem seja o secretário, diretor geral, diretor administrativo, quem efetivamente decide sobre as coisas é o Cláudio Puty. A secretaria serve aos interesses políticos dele, os servidores comissionados servem ao fim politico de eleger ele ou uma pessoa que ele apoie. Relato que enquanto fui secretária, até para assinar ofícios passava pela autorização dele. Ele se afastou oficialmente pois é o que a lei eleitoral ordena, mas na prática ele seguiu sendo o secretário da segep. Continuamos subordinados a ele.
Ele foi não só foi omisso em todos os outros casos de assédio moral e sexual que eu e ostros vítimas relatamos, mas também foi conivente com os assediadores. As vítimas sempre foram convencidas a ficarem caladas, ou foram ignoradas ou simplesmente foi enroladas para que ficassem caladas. Quando confrontado culpa outras pessoas, diretores, a própria esposa, se vitimiza, ele nunca teve a dignidade de resolver mesmo podendo. Eu nunca fui assediada por ele, ele sempre foi gentil comigo, mas acho que o que mais pesa nessa situação toda é aquela famosa frase “quem protege os lobos, sacrifica as ovelhas”, sob a gestão dele, Márcias, Marjories, Nathalias e Shyrleis foram Sacrificadas porque A, B e N e O’s foram protegidos. Para ler a matéria completa acesse o link: https://oantagonico.net.br/a-prefeitura-de-belem-a-segep-o-advogado-as-mulheres-o-assedio-sexual-o-puty-o-edmilson-e-a-omissao/
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