O Edmilson. O Consórcio. A CCV Serviços. A BA Meio Ambiente. As Dívidas de R$ 78 Milhões

 


Mais um rolo milionário envolvendo o prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues: A Secretaria Municipal de Saneamento de Belém acaba de dar sinal verde para a contratação da empresa SPE CDU Consórcio de Dragagem Urbana Ltda, para executar os serviços de dragagem, limpeza e manutenção do sistema de drenagem urbana do município de Belém. O contrato faraônico tem o valor de R$ 61.190.143,20 (sessenta e um milhões, cento e noventa mil, cento e quarenta e três reais e vinte centavos). 

Mais o pior ainda está por vir: o Consórcio de Dragagem, acreditem os leitores, foi criado no dia no dia 03 de julho deste ano, não tendo sequer 15 dias de existência. O consórcio é formado pelas empresas B.a. Meio Ambiente Ltda, que se encontra em recuperação judicial  e a Ccv Servicos de Infraestrutura e Arquitetura LTDA. A B.A Meio Ambiente é representada por Jean de Jesus Nunes e a CCV Servicos por Caroline Oliveira Valério. 

A empresa CCV Servicos, integrante do corsórcio, que tem como sócios-administradores o advogado Carlos Valerio Dos Santos Neto e Caroline Oliveira Valerio, está no mercado desde 2017, e aparece, na junta comercial, como empresa de pequeno porte e optante, acreditem os leitores, do Simples Nacional, regime tributário exclusivo para micro e pequenas empresas.  

Já a outra empresa do consórcio, tem broncas em vários estados e acumula processos e dívidas. A B.A Meio Ambiente, além de estar em recuperação judicial — em processo que tramita na 13ª Vara Cível de Belém, cidade onde foi fundada — a firma e seu dono, Jean de Jesus Nunes, são réus em duas ações por improbidade e duas ações criminais na Justiça Federal do Pará. Além dessas, respondem a três outros processos na área de patrimônio público. 

O processo de recuperação judicial se deve a dívidas acumuladas que superam R$ 78 milhões (em valores de 2015, a serem corrigidos). Já as ações criminais e por improbidade tratam de duas licitações (obras de engenharia na capital paraense, nas regiões do Entroncamento e da chamada bacia da Estrada Nova), ambas próximas a Belém. A empresa é assídua em contratos com o setor público em Belém. 

Por meio de obras prometidas à prefeitura da capital paraense, movimentou mais de R$ 720 milhões entre os anos de 2008 e 2015. Está sendo processada por improbidade pelo Ministério Público Federal (MPF) no Pará, entre outros motivos, porque, apesar dessa movimentação de dinheiro, declarou apenas R$ 410 milhões de faturamento naquele período. Seria uma manobra para ocultar parte das quantias recebidas. 

“Ou seja, a diferença de R$ 310,1 milhões entre o que foi declarado como faturamento e o que foi efetivamente creditado nas contas da B. A. Meio Ambiente Ltda teve, em tese, origem diversa da atividade operacional da empresa”, aponta o MPF, num dos processos. Entre 2010 e 2020, por exemplo, a B.A. Meio Ambiente firmou nove contratos em Belém, todos na área de manejo e coleta de resíduos, limpeza e conservação. Alguns mediante concorrência, outros com dispensa de licitação (emergenciais).

Em nível estadual, o Ministério Público do Pará moveu três ações civis públicas contra a B.A. Meio Ambiente. Uma delas trata de possíveis irregularidades na contratação emergencial da empresa para serviços de limpeza urbana em canais e vias de Belém. A segunda cobra R$ 14 milhões por depreciação de maquinário emprestado pelo governo do Pará à empresa, para serviços de terraplenagem e drenagem. 

A terceira também se refere a uma dispensa de licitação em coleta de detritos. A B.A. Meio Ambiente surgiu no Rio de Janeiro em 2005. Foi fundada por Jacob Barata e seu primogênito, Jacob Barata Filho, grandes empresários do setor de transportes fluminense, que depois admitiram como sócio o paraense Jean de Jesus Nunes. A empresa nasceu como multiserviços: para obras de terraplenagem, construção de rodovias e ferrovias, coleta de resíduos perigosos e não-perigosos, descontaminação de lixo, serviços de engenharia e, também, reparação de automóveis. 

Na realidade, deduz o Ministério Público Federal, essa multiplicidade destina-se a disputar licitações de vários tipos, onde quer que ocorram. Os Barata, pai e filho, se retiraram da sociedade da B.A. Meio Ambiente em 2009. Os dois empresários do transporte coletivo foram depois investigados e condenados por corrupção. 

A Operação Lava-Jato constatou que gerenciavam uma caixinha da Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Rio (Fetranspor) para o pagamento de propinas a agentes públicos. E quem era o sócio dos Barata na B. A. Meio Ambiente? Jean de Jesus Nunes, o atual dono da empresa. Quando fundou a B.A., ele também era assessor do senador paraense Duciomar Gomes da Costa (na época, no PP), função que exerceu entre 2003 e 2005. 

Assim que o senador se elegeu prefeito de Belém pelo PTB, em 2005, Jean Nunes voltou ao Pará para trabalhar com ele, num cargo comissionado. Duciomar, que foi prefeito de Belém duas vezes, é réu em 19 processos que tramitam na Justiça Federal.  Em duas dessas ações, Jean de Jesus Nunes (dono formal da B.A. Meio Ambiente) também é acusado. 

Os dois, segundo o MPF, teriam fraudado licitação de obras de saneamento, com a inclusão da B.A. Meio Ambiente apenas pro forma, para figurar, com combinação de ofertas para que ela perdesse e outra empresa, de agrado do senador, fosse vencedora da concorrência pública. 

“A empresa B.A. Meio Ambiente foi igualmente inabilitada por descumprimento do edital, não tendo constado em seus índices de liquidez geral, liquidez corrente, solvência e endividamento o carimbo e a rubrica do contador responsável. As falhas meramente formais da empresa participante, que sabia que seria inabilitada, indicam a participação desta apenas para simular a competitividade e intencionalmente perder a licitação”, argumenta o MPF paraense. 

Duciomar já era investigado por outras fraudes, inclusive na área do lixo. Numa das investigações sobre licitações combinadas, a Polícia Federal prendeu um gari que recebia salário minimo em 2008 e, em 2015, acumulava patrimônio de R$ 1,6 milhão. Sua ascensão se deu após virar sócio em empresas contratadas pelo ex-prefeito Duciomar para serviços de limpeza.

A suspeita do MPF é que Jean de Jesus Nunes, o dono da B.A. Meio Ambiente, também atue como testa-de-ferro de Duciomar. O ex-prefeito inclusive chegou a residir numa casa, num condomínio de luxo em Belém, que está em nome de seu ex-assessor Jean Nunes.  

Depois que Duciomar deixou de ser prefeito, em 2013, o número de contratos firmados pela B.A. Meio Ambiente em Belém diminuiu, embora ela ainda faça serviços de coleta de detritos na capital paraense. E as dívidas aumentaram, tanto que ela entrou em recuperação judicial. 

O débito da empresa, calculado pela 13ª Vara Cível da capital paraense (onde corre o processo), é de R$ 78,2 milhões. Leia abaixo a portaria que sacramenta a contratação do Consórcio:  

EXTRATO DE CONTRATO Nº 15/2024/SESAN/PMB.

CONCORRÊNCIA Nº 10/2023–SESAN-PMB

PROCESSO Nº.3285/2022-SESAN/PMB.

CONTRATANTE: SECRETARIA MUNICIPAL DE SANEAMENTO – SESAN

CONTRATADO: SPE CDU CONSORCIO DE DRAGAGEM URBANA LTDA.CNPJ: 55.775.552/0001-63

FUNDAMENTAÇÃO LEGAL: A lavratura do presente contrato Lei Federal nº 8.666/1993 e suas alterações, da Lei Federal nº 9.854/99, da IN nº 02, de 11/10/2010 da SLTI/MPOG, o Decreto Federal nº 93.872/86, IN nº 02, de 30/04/2008 da SLTI/MPOG.

OBJETO: O presente Contrato tem como objeto a CONTRATAÇÃO EMPRESA ESPECIALIZADA NA EXECUÇÃO DOS SERVIÇOS DE DRAGAGEM, LIMPEZA E MANUTENÇÃO DO SISTEMA DE DRENAGEM URBANA, QUE DEVERÃO SER EXECUTADAS NO MUNICIPIO DE BELEM E DISTRITOS ADMINISTRATIVOS.

VALOR: O valor deste contrato, é de R R$ 61.190.143,20 (sessenta e um milhões, cento e noventa mil, cento e quarenta e três reais e vinte centavos).

VIGÊNCIA: O prazo para execução e o prazo de vigência do Contrato será de 12 (doze) meses, contados a partir da data da assinatura do Contrato.

Dotação Orçamentária: Funcional Programática: órgão: 2.10 / unidade orçamentária: 21 / função: 17 / subfunção: 451 / programa: 0002 / projeto atividade: 1176 / categoria despesa: 33900390000 / fonte: 1500000000 / fundo: 999.Data da Assinatura: 04/07/2024.

Nomes das Partes que Assinam o Contrato: Ivanise Coelho Gasparim– Contratante / Jean de Jesus Nunes e Caroline Oliveira Valerio – Contratada.

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