O Globo. A Presidente da Funai. O Prefeito Grileiro e a Foto no Instagram



 O jornal o Globo registrou, em ampla matéria, a saia justa protagonizada pela presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Joenia Wapichana, que publicou em suas redes sociais uma foto ao lado do prefeito de São Félix do Xingu, acusado de apoiar o garimpo ilegal em terras indígenas. Na imagem divulgada em seu Instagram, Wapichana posa com o prefeito, que é também é suspeito em crimes relacionados a disputas de terra, grilagem e delitos ambientais.

O encontro entre a presidente da Funai e Cléber ocorreu durante o evento “Justiça Itinerante Cooperativa”, programa coordenado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Wapichana foi convidada para participar devido à forte presença de povos indígenas na região. Também estavam na visita as ministras do Supremo Tribunal Federal (STF) Rosa Weber e Cármen Lúcia. Em maio deste ano, o prefeito de São Félix foi alvo de uma ação do MPF que pediu sua condenação sob acusação de abrir uma estrada para dar apoio ao garimpo ilegal dentro da Terra Indígena Apyterewa. Território do povo Parakanã, a Apyterewa é há pelo menos quatro anos consecutivos a terra indígena com a maior área de floresta derrubada na Amazônia, segundo dados do Imazon.

Essa é apenas a mais recente denúncia contra João Cléber. Seu histórico de acusações fez com que ele virasse personagem principal de uma publicação de destaque no Washington Post, um dos principais jornais do mundo, com uma reportagem intitulada “O Deus de São Félix”. Em relatório divulgado pela ONG Greenpeace em 2021, a fazenda Bom Jardim, de propriedade de João Cléber, é apontada como invasora de uma área de floresta pública da Amazônia, sem autorização para desmate, o que indica que poder sido adquirida a partir de um processo de grilagem. Na mesma fazenda, João Cléber também já foi denunciado pelo MPF pelo crime de exploração de trabalho escravo. Ele nega as acusações.

Em 2018, Cléber chegou a ser preso na Operação Tetrarca, da Polícia Civil do Pará, por suposto desvio de recursos públicos durante a sua primeira gestão na Prefeitura de São Félix. Dois anos antes, ele também foi alvo da operação Reis do Gado, da Polícia Federal, que investigou um esquema de lavagem de dinheiro com uso de gado e fazendas. Os casos ainda tramitam na Justiça. Cléber também já foi citado em relatório do MPF de 2003 como sendo o mandante de uma chacina que matou sete trabalhadores rurais e um comerciante em São Félix do Xingu. Porém, nunca houve acusação formal no caso. Ele também acumula multas por delitos ambientais, entre elas uma no valor de R$ 6,6 milhões, de 2014.

Questionada sobre a foto ao lado de Cléber, Wapichana afirmou por meio de nota que o encontro no evento decorreu de sua posição como autoridade local, por receber as autoridades presentes em seu município. Ela afirma ainda que não teve nenhuma agenda exclusiva ou específica com o prefeito de São Félix do Xingu e que não sabia das acusações contra ele. “É fundamental compreender que a presença do prefeito em uma fotografia ou em um evento conjunto não implica, de forma alguma, o apoio a ações questionáveis que possam ser atribuídas a ele em relação aos povos indígenas, principalmente quando essas informações não eram de conhecimento prévio da Presidenta da Funai”, diz um trecho da nota.

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