A rede de varejo Marisa informou esta semana que concluiu seu plano de reestruturação financeira com um total de 88 lojas fechadas. De acordo com a empresa, foram investidos R$ 44,5 milhões para a desativação das unidades. A companhia está empenhando esforços para tentar recuperar sua capacidade de gerar caixa — ou seja, voltar a ter recursos disponíveis para investimentos e para sua operação — e para voltar a ser rentável.
O plano inicial previa o fechamento de 92 lojas. No comunicado desta segunda, no entanto, a varejista disse ter optado pelo encerramento de um número menor de unidades “visando a preservação de pontos em que foram identificadas melhorias e que deverão resultar em maior eficiência operacional”.
Segundo a companhia, o custo de R$ 44,5 milhões para o fechamento das lojas ficou 16% abaixo do previsto inicialmente. Com isso, a empresa projeta uma potencial captura de Ebtida (Lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) de cerca de R$ 40 milhões em 2023 e de aproximadamente R$ 60 milhões ao ano a partir de 2024.
De acordo com a companhia, a primeira parte do processo de redução de SG&A (despesas de vendas, gerais e administrativas) foi concluído, “viabilizando uma geração extra de caixa de R$ 35 milhões ao ano”. “Ao longo do segundo semestre serão otimizados os serviços de terceiros e outras despesas, o que deverá gerar uma economia adicional de pelo menos R$ 10 milhões por ano”, continuou a empresa. Segundo a Marisa, o processo de renegociação de dívidas atingiu 90% do total de seus fornecedores e 97% do total de valores devidos aos seus parceiros de revenda.
O que levou a empresa às dezenas de lojas fechadas?
Essa não foi a primeira ação da companhia para tentar sair de uma crise financeira que há mais de 10 anos tem impactado seus resultados. Só neste ano, por exemplo, a Lojas Marisa enfrentou a renúncia de cinco executivos da alta cúpula da empresa, contratou assessores externos e anunciou emissões de debêntures (títulos de dívida) e a venda de direitos creditórios (direitos aos créditos que a companhia tem a receber).
Além disso, a empresa já vinha mantendo esforços para renegociar prazos e dívidas com fornecedores, credores e proprietários de imóveis, reduzir seus investimentos em estoques de produtos e cortar suas despesas operacionais.
A Marisa é uma das maiores redes de moda feminina e lingerie do Brasil, mas desde o início da década passada vive uma longa crise financeira. Com foco na classe média — segundo a empresa, mais da metade de suas consumidoras possui renda entre R$ 3 mil e R$ 5 mil —, a companhia apertou as margens para manter preços baixos e deixou de inovar. Dali em diante, a Marisa teve que lidar com a redução de qualidade dos produtos e a perda de poder de compra dessa fatia da população. As contas passaram a não bater, mas foi apenas em 2016 que a família Goldfarb, fundadora da rede, deixou a gestão da empresa para dar lugar a um executivo de mercado.
Ainda assim, as recessões de 2015 e 2016 somadas à pandemia de Covid-19 apertaram as finanças do público em geral e limitaram o avanço de empresas varejistas. E com a Marisa não foi diferente: em 2020, a empresa registrou um prejuízo líquido de mais de R$ 400 milhões, seguido por outro prejuízo de mais de R$ 70 milhões em 2021 e outro de mais de R$ 200 milhões em 2022.
Em seu último resultado, divulgado no começo desta semana, a empresa reportou um prejuízo líquido de R$ 148,9 milhões no primeiro trimestre deste ano, um aumento de 64,2% em relação a igual período de 2022. Os resultados ruins e a demora em uma mudança nas perspectivas da empresa levaram as ações da Marisa da casa dos R$ 27 em 2013 para menos de R$ 1 nos dias de hoje.
Ajuda externa e capitalização
Para tentar superar a crise, a companhia informou, em fevereiro, que contratou a BR Partners, em “continuidade ao processo de otimização financeira e aprimoramento de sua estrutura de capital”. Desde então, o banco de investimentos tem assessorado a Marisa em seu processo de renegociação de dívidas. A empresa também contratou a Galeazzi Associados na mesma época, para apoiá-la no aperfeiçoamento de sua estrutura de custos.
Em uma das últimas atualizações sobre sua situação financeira, a empresa informou que renegociou dívidas com 90% de seus fornecedores e 65% de proprietários de imóveis. Ainda assim, segundo relatório de resultados, a companhia ainda tinha uma dívida líquida de R$ 461 milhões ao final do primeiro trimestre deste ano.
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