Um novo bot no Twitter está fiscalizando as atividades da empresa brasileira JBS no estado do Pará. Trata-se do Brazil Big Beef Watch, que se apresenta da seguinte maneira na rede social: “A JBS, gigante do setor de frigoríficos, diz que ainda não consegue rastrear sua cadeia de abastecimento indireta. Então, estou ajudando e twittando quando um fornecedor em potencial se envolve no desmatamento”.
O bot é um projeto da ONG Global Witness e se baseia em alertas semanais de desmatamento publicados pela iniciativa MapBiomas, do Observatório do Clima. Sempre que este alerta é gerado, o bot vasculha guias de trânsito animal. Estes, por sua vez, informam a origem e destino do gado, para identificar se o desmatamento ocorreu em uma fazenda que faz parte da cadeia de abastecimento indireta da JBS.
O resultado são tweets como o que você vê a seguir. Na ocasião, o bot fez um alerta sobre um evento de desmatamento de 33,8 hectares em uma fazenda, em dezembro passado. Ao mesmo tempo, esta fazenda também vendeu pelo menos 665 cabeças de gado para fornecedores da JBS.
O bot está explorando dados desde março de 2022. Até o momento, ele revelou que aconteceram pelo menos 61 eventos de desmatamento, com uma média de 46 hectares de terra desmatada a cada semana, e somente no Pará. O desmatamento total analisado pelo Beef Watch, referente ao ano passado, chega a 2.390 hectares — o equivalente a três mil campos de futebol.
Para ser classificado como fornecedor indireto pelo bot, uma fazenda deve atender a critérios específicos. Entre eles, está vender gado para um fornecedor direto da JBS várias vezes, além de fazê-lo desde 2020. Se o bot detecta que a localização de uma fazenda coincide com um alerta de desmatamento da MapBiomas, ele compartilha essa informação no Twitter.
A Global Witness lançou a ferramenta depois de publicar um relatório, em junho de 2022, revelando que a JBS continuava comprando gado de fazendas associadas ao desmatamento de 10 mil hectares no estado do Pará. Contudo, esta ação contraria acordos de não desmatamento do Ministério Público Federal. A organização identificou que a JBS fez negócios com 144 fazendas irregulares, em 2020. Além disso, a empresa também estaria falhando em monitorar outras 470 fazendas que funcionam como suas fornecedoras indiretas, segundo o relatório.
Para Veronica Oakeshott, chefe da campanha de florestas da Global Witness, a tecnologia de satélite impede que as grandes empresas se escondam. “Com essa ferramenta voltada para a maior empresa de carne bovina do planeta, mostramos como é fácil para as empresas (e autoridades) checar cadeias produtivas quanto ao desmatamento. Se nós conseguimos, eles também conseguem”, disse Oakeshott.
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