A retomada chinesa já mudou o rumo das cotações e na última sexta-feira seis praças monitoradas passaram por valorização no mercado físico do boi gordo, SP, AL, MS, PR, RO e SC. Na B3, o contrato vigente fechou o dia em R$ 294,65/@, registrando uma alta de 0,29%. Com a volta da produção de carne bovina com destinação à China, grande parte dos frigoríficos retomaram seus negócios e as escalas de abate voltaram a avançar em algumas regiões, como São Paulo, que apresentou 1 dia de alta no comparativo semanal e conta em média com 9 dias úteis programados.
Já a média nacional ainda se mantém estável nos 6 dias úteis, porém com tendência de alta. “Esse cenário de recuperação de preços já era algo esperado pelo mercado, isso porque, do lado da oferta, nós temos um acúmulo de animais prontos para serem vendidos para China, à espera dessa retomada. A indústria estava fora do mercado, para evitar o acúmulo nos estoques, como aconteceu em algumas regiões em 2021. Essa retomada nos valores está em linha, basicamente, porque as negociações ganharam mais força e o Boi-China é o mais caro no mercado hoje, o que explica essa recuperação um pouco mais forte’, explica o analista econômico de proteína animal no Rabobank, Wagner Yanaguizawa.
Para Yanaguizawa, em conversa com o Agro Times, o momento de retomada permite com que os exportadores entendam o cenários dos estoques chineses, assim como o apetite desses importadores. Na visão dele, devemos ter um salto de exportações para China. “Deve ocorrer um efeito compensatório desse período embargado, muito porque os estoques da China estavam atrelados aos preços do fim do ano passado, quando os patamares eram maiores, com isso, existe essa demanda dos importadores para comprar carne mais barata hoje e diluir esses preços dos estoques para não impactar muito as margens, o que explica essa recuperação de preços do boi gordo’, comenta.
Para o analista, o descarte de fêmeas é um ponto de atenção na questão da oferta, já que estamos em um momento de transição da época das águas para épocas das secas. Um exemplo é Mato Grosso, conforme números do Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso (Indea), do total de animais enviados para a indústria em fevereiro 51,29% eram fêmeas, enquanto machos representaram 48,71%.
“Nesse período, os criadores costumam elevar o descarte de fêmeas menos produtivas, isso porque o preço do bezerro continua assumindo uma tendência de queda, e tem espaço para cair mais. Essa é a estratégia que eles fazem para reduzir custos de produção e não impactar muito as margens da cria, um fundamento de aumento de oferta que pressiona negativamente os preços, então é um ponto de atenção no mercado doméstico'”.
Vale lembrar que o mercado doméstico responde por 70% da demanda brasileira pela carne bovina, mesmo com o Brasil sendo o maior exportador da proteína no mundo. Além do fim do embargo, a China anunciou a habilitação de 4 novos plantas brasileiras. Na visão do analista, a aprovação acompanha o cenário de alta no consumo doméstico da China, e serve como estratégia comercial do país asiático em busca de melhores preços de importação, algo que precisa ser visto com atenção pelo Brasil no médio-longo prazo. Segundo ele, existem novas plantas que estão aguardando para serem aprovadas
“Com a entrada de novas plantas, a competitividade no mercado interno cresce, com a China sendo cliente favorito dos exportadores, já que esse é mercado que melhor paga o Brasil hoje. A abertura de novas áreas de rebanho na China está muito limitada, mas a demanda no país segue crescendo, dessa forma, não há outra alterativa a não ser buscar o mercado externo. Com isso, o Brasil, que já é o maior exportador, deve continuar se consolidando no curto-médio prazo, e isso significa mais oportunidade em termos de demanda”, diz. Crédito: Reprodução Internet China está mais refém e dependente do Brasil
O analista da Rabobank também falou sobre os impactos dos preços. “Nós vimos uma queda nos preços em um primeiro momento, porque o Boi-China tem o maior preço, então ele acaba tendo impacto direto na precificação do boi gordo. A partir dos dados parciais de exportação, vimos uma pressão por conta do mercado chinês, já que 55% de tudo que exportamos de carne bovina é apenas para atender o mercado do país.
Com a China fora do mercado, vemos um impacto direto na demanda externa“, explica. “A indústria, assim como os produtores que não tem aceitado preços menores, também tem se retirado do mercado e não ofertado animais’, comenta. Segundo o especialista, o cenário atual é bem diferente de 2019, já que a importância do Brasil nas importações de carne bovina da China cresceu. “Quando olhamos para 2019, nós representávamos 24% de tudo que a China importou de carne bovina, quando olhamos dados do ano passado, essa participação aumentou para 42%. Hoje, Brasil, Argentina e Uruguai representam 75% de toda carne bovina importada pela China“, pontua. Ele diz que os preços da carne bovina para China atingiu um pico em junho de 2022 (US$ 7.300/t), e tem assumido uma tendência de queda no começo deste ano (US$ 4.900/t), recuo de quase 33% no período. 2023 confirma virada de fase no ciclo de preços do boi gordo, aponta analista.
Além disso, houve uma queda de 17,6% no preço médio do produto na comparação com os dados de março do ano passado. Com isso, o preço médio da tonelada esta em US$ 4.863, contra US$ 5,904 mil do ano passado.
Com informações de Agrifatto, Rabobank e Money Times
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