Dois frigoríficos do Pará, Frigol, de Água Azul do Norte, e Mercúrio Alimentos de Xinguara, obtiveram autorização da Indonésia para importações de carne bovina. Com as liberações, chegará a dez o número de empresas brasileiras – algumas delas têm mais de uma unidade autorizada – com acesso a um mercado que, mesmo ainda sendo coadjuvante no comércio internacional do produto, já importa cerca de US$ 1 bilhão por ano.
O montante é superior às compras anuais de carne do Brasil feitas pelos Estados Unidos – os EUA são o segundo maior importador da proteína brasileira. Além dos dois frigoríficos paraenses, entraram na lista de habilitações as unidades da Marfrig em Promissão (SP), Chupinguaia (RO) e Tangará da Serra (MT), Minerva – Janaúba (MG), Barra Mansa, de Sertãozinho (SP), Vale Grande, de Matupá (MT), Frigon, de Jaru (RO), Maxi Beef, em Carlos Chagas (MG), e o Frigorífico Astra, de Cruzeiro do Oeste (PR).
A Indonésia é também um dos mercados de maior potencial de crescimento no mundo, avaliam integrantes da indústria. No ano passado, em seu relatório mais recente sobre as perspectivas para o mercado global de alimentos, Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) disseram que, até 2031, o consumo per capita de carne bovina deverá cair em quase todas as regiões do mundo. A exceção será o Sudeste Asiático, segundo o relatório – e a Indonésia, ao lado de Coreia do Sul e Filipinas, puxará esse avanço.
O consumo no país ainda é baixo: segundo FAO e OCDE, cada indonésio ingere, em média, 2,4 quilos de carne por ano. O consumo per capita anual é de 6 quilos no mundo e de 25 no Brasil, onde há grande oferta. Por outro lado, com 290 milhões de habitantes, a Indonésia é um dos países mais populosos do planeta, tem uma classe média em expansão e é, além disso, a maior nação islâmica do planeta, o que oferece oportunidades para o mercado de produtos halal, feitos de acordo com os preceitos da religião muçulmana.
O Ministério da Agricultura não confirmou a informação sobre o aval indonésio a frigoríficos do Brasil. A Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), por sua vez, informou não ter recebido comunicado oficial da Pasta. Em 2019, o país do sudeste asiático já havia habilitado dez plantas frigoríficas brasileiras, pertencentes a JBS, Marfrig e Minerva, as três maiores companhias de carne bovina do país. Com as novas liberações, o número de empresas chegou a dez.
As importações de carne bovina começaram a ganhar tração na Indonésia em 2017, segundo um estudo do Ministério da Agricultura. Naquele ano, as compras do país cresceram quase 10% em relação a 2016 e alcançaram 160,2 mil toneladas. Os embarques dobraram nos três anos seguintes, chegando a 324 mil toneladas em 2020.
Para Fernando Iglesias, analista da Safras & Mercado, o fato de o Brasil já ser o maior exportador de frango halal do mundo dá credibilidade à indústria. Ele acredita que a Indonésia deve continuar importando de 250 mil a 300 mil toneladas de carne bovina neste ano. “Não é suficiente para mudar os rumos da bovinocultura brasileira, mas também não é um volume desprezível”, avalia.
Historicamente, o maior fornecedor de carne bovina ao mercado indonésio é a Austrália, mas a contração do rebanho diminuiu a oferta australiana nos últimos anos. No ano passado, a Indonésia enfrentou um surto de febre aftosa, o que pode ter afetado a produção local – e, com isso, ampliado as importações. Antes do problema sanitário, o gado em pé dominava as importações indonésias.
No ano passado, o Brasil exportou 20,5 mil toneladas de carne bovina para a Indonésia, o que representou um aumento de 23,5% em relação a 2021. Entre os 20 países que mais importam carne do Brasil, seis têm população majoritariamente islâmica: Egito, Emirados Árabes, Arábia Saudita, Indonésia, Jordânia e Malásia.
Com informações do Valor Econômico
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