A Isto É. A Mineração. O Pará. O Êxodo Mineiro



 Matéria publicada na revista Isto É esta semana revela um êxodo mineiro rumo a cidades paraenses. O texto, da jornalista Mirela Luiz, aponta que a extração de minério no Pará da ordem de 11%. Leia a matéria completa abaixo:

Empresas de Mineração Estão Deixando Minas Gerais em Direção ao Pará

A mineração está ligada à história de Minas Gerais. E, desde a década de 1940, foi especificamente a extração de ferro que se tornou um dos motores econômicos do estado, que virou líder absoluto na produção desse metal. Décadas mais tarde, essa posição começa a ser ameaçada pelo Pará. O estado da região Norte tem uma localização mais estratégica e um produto com maior pureza, por isso vem se tornando o centro da mineração nacional, com investimento crescente de pequenas e grandes empresas.

Os números da Vale, responsável pela maior parte das receitas no setor em Minas, ilustram a tendência. A produção de minério de ferro no estado caiu 36,3% entre 2017 e 2021. Houve uma queda de 194,9 milhões de toneladas métricas extraídas para 124,1. Na contramão, o Pará registrou aumento na extração. Neste mesmo intervalo de tempo, houve crescimento de 11%.
Especialistas apontam que o maior tempo de operação das minas no estado do Sudeste tem influenciado na queda no volume de produção. “Minas Gerais, que já foi praticamente a única grande produtora, exploradora e beneficiadora de minério no País, foi ao longo dos anos dando lugar ao Pará”, diz Waldir Salvador, consultor de Relações Institucionais e Desenvolvimento Econômico da associação de municípios mineradores de Minas Gerais, a AMIG.

Segundo ele, Minas Gerais foi deixando de extrair hematita, que é o mineral mais puro e menos contaminado, para produzir cada vez mais itabirito, um mineral mais “friável”, mais difícil de britar (quebrar em pequenos pedaços), com menor teor de ferro e um pouco mais contaminado. Isso tem provocado um verdadeiro êxodo para Canaã dos Carajás, no Pará, onde as mineradoras têm à disposição hematita de alto grau, matéria-prima mais “pura”, com teor de ferro em torno de 65%.

De acordo com Julio Nery, diretor de Sustentabilidade e Assuntos Regulatórios do Instituto Brasileiro de
Mineração (IBRAM), os minérios mais ricos em Minas Gerais, com teor acima 60% de pureza, efetivamente estão acabando. “Devido ao tempo de exploração, eles praticamente já foram todos minerados”, explica.

No Pará, a Vale não é a única responsável pelo aumento da mineração. Pequenas mineradoras, chamadas de juniores pelos especialistas, também aproveitam a proximidade do porto do Maranhão, o que facilita a logística para o envio do minério de ferro ao exterior, principalmente para o mercado asiático.

A produção deixa o local pela ferrovia EFC (Carajás) e vai até o porto de Ponta da Madeira, no Maranhão, de onde segue para outros países, principalmente a China. Números do IBRAM mostram que no terceiro trimestre deste ano 72,2% das exportações brasileiras do produto partiram para a China.

Conforme dados da Agência Nacional de Mineração (ANM), atualmente estão registradas na região de Minas Gerais 1.402 empresas e pessoas físicas produtoras no setor mineral, em 506 municípios. Em 2021, o Estado produziu e comercializou 360,2 milhões de toneladas de bens minerais. O Pará, que começou sua exploração em meados de 1985, produziu e comercializou apenas de minério de ferro cerca de 185 milhões de toneladas no mesmo ano, o que correspondeu a 44% da produção do Brasil desse mineral, mostrando a força dessa nova fronteira de produção.

“Claro que o Pará é mais competitivo. Por exemplo, nós usamos os portos do Rio de Janeiro e o do de Vitória para fazer o escoamento do minério, enquanto o Pará usa o do Maranhão, que é muito mais próximo. Então, lá, o custo de exploração é menor”, conta o diretor da AMIG. Outro fator que forçou as empresas a reduzirem a operação em diferentes jazidas em Minas Gerais é o fato de a legislação ter ficado mais rígida e as autoridades, mais rigorosas em relação a problemas ambientais, muito por conta das tragédias em Mariana (2015) e Brumadinho (2019).

De modo geral, a indústria mineradora causa impacto significativo ao meio ambiente, pois quase sempre o desenvolvimento dessa atividade implica em supressão de vegetação, na exposição do solo aos processos erosivos com alterações na quantidade e qualidade dos recursos hídricos superficiais e subterrâneos, além de causar poluição do ar, entre outros aspectos negativos. “As leis têm que ser rígidas, não dá para fazer mineração como se fazia no passado.

Mineração ainda é um segmento muito fechado, muito pouco transparente em relação às suas operações. É um negócio meio paradoxal, a mesma atividade que te sustenta é a que te amedronta”, defende o consultor da AMIG, explicando que Minas Gerais ainda tem uma grande quantidade de recursos minerais que, embora não tão ricos, são importantes para o País e poderão trazer muitos resultados se forem explorados com uso de tecnologia apropriada. “A mineração precisa ser reavaliada, fazer um beneficiamento com menos impacto ambiental para que a gente não sofra tanto”, diz o executivo.

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